A VOZ DOS PAPAS
Papa São João Paulo II
Carta autografada de agradecimento pelos Exerícios Espirituais
Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz
Na conclusão dos Exercícios Espirituais nos quais tive a alegria de participar, juntamente com os meus colaboradores mais próximos da Cúria Romana, durante esta primeira semana da Quaresma, dirijo-lhe, caro Irmão no Episcopado, os meus mais cordiais agradecimentos pelo testemunho de fé ardente no Senhor, que expressou vigorosamente através das suas meditações sobre um tema tão actual para a vida da Igreja: «Testemuhas da Esperança».
No decorrer do grande Jubileu, desejei que se desse destaque, em particular, ao testemunho de pessoas que «sofreram pela sua fé, pagando com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando com coragem, intermináveis anos de prisão e de privação de todo o gérero» (Incarnationis mysterium, n. 13). No testemunho que partilhou connosco, com calor e emoção, mostrou que, em toda a vida do Homem, o amor misericordioso de Deus, que transcende toda a lógica humana, é sem medida, especialmente nos momentos de maior angústia. Fez-nos associar, assim, a todos aqueles que, em diversas partes do mundo, continuam a pagar um pesado tributo em nome da sua fé em Cristo.
Baseando-se nas Escrituras e nos ensinamentos dos Padres da Igreja, bem como na sua experiência pessoal, em particular do período passado na prisão por Cristo e pela Sua Igreja, trouxe à luz o poder da Palavra de Deus que, para os discípulos de Cristo, é «firmeza da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual» (Dei Verbum, n. 21).
Através da sua palavra fraterna e estimulante, conduziu-nos pelos caminhos da esperança que Cristo nos abriu, renovando a nossa humanidade, tornando-nos criaturas novas e chamando-nos a uma renovação pessoal e eclesial perpétuos. Possa o Verbo Encarnado conceder a quantos ainda hoje sofrem, a força e a coragem para anunciar, em todas as circunstâncias, a verdade do amor cristão, para que Cristo seja conhecido e amado!
Caro Irmão no Episcopado, confio à materna intercessão da Virgem Maria, Mãe da Esperança, a sua pessoa, bem como o seu ministério, através do qual contribui de modo específico, em nome da Igreja, para o estabelecimento da justiça e da paz entre os homens. Que Ela lhe obtenha a abundância das graças de Seu Filho, o Verbo Encarnado!
De todo o coração lhe concedo, com afeição, a benção apostólica, que estendo a todas as pessoas que lhe são queridas.
Vaticano, 18 de Março de 2000
JOANNES PAULUS II
Papa Bento XVI
DISCURSO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
AOS OFICIAIS E COLABORADORES DO PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ
POR OCASIÃO DO 5°ANIVERSÁRIO DA MORTE
DO CARDEAL FRANÇOIS-XAVIER NGUYÊN VAN THUÂN
Palácio Apostólico de Castel Gandolfo
Segunda-Feira, 17 de Setembro de 2007
Senhor Cardeal,
veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
caros irmãos e irmãs!
Dirijo as boas-vindas a todos vós, reunidos para fazer memória do caríssimo Cardeal François-Xavier Nguyên Van Thuân, que o Senhor chamou a si a 16 de Setembro de há cinco anos atrás. Passaram-se cinco anos, mas permanece ainda viva na mente e no coração de quantos conheceram a nobre figura deste fiel servidor do Senhor. Também eu conservo não poucas recordações pessoais dos encontros que tive com ele durante os seus anos de serviço aqui, na Cúria Romana.
Saúdo o Senhor Cardeal Renato Raffaele Martino e o Bispo Mons. Giampaolo Crepaldi, respectivamente, Presidente e Secretário do Pontifício Conselho Justiça e Paz, juntamente com os seus colaboradores. Saúdo os membros da Fondazione San Matteo, instituída em memória do Cardeal Van Thuân, do Osservatorio Internazionale, que leva o seu nome, criado para difundir a Doutrina Social da Igreja, bem como os parentes e amigos do defunto Cardeal. Ao Senhor Cardeal Martino exprimo sentimentos de viva gratidão, também pelas palavras que quis dirigir-me em nome dos presentes.
Aproveito, com gosto, a ocasião para realçar, uma vez mais, o testemunho luminoso de fé que nos deixou este heróico Pastor. O Bispo Francisco Xavier – assim gostava de apresentar-se – foi chamado para a casa do Pai no Outono de 2002, depois de um longo período de sofrida doença, enfrentada num total abandono à vontade de Deus. Um pouco antes, tinha sido nomeado pelo meu venerado predecessor João Paulo II, Vice-Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, tendo-se tornado depois Presidente, iniciando a publicação do Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Como esquecer os traços marcantes da sua cordialidade simples e imediata? Como não realçar a capacidade que tinha de dialogar e de fazer-se próximo de todos? Recordamo-lo com tanta admiração, enquanto nos vêm à mente as grandes visões, cheias de esperança, que o animavam e que ele sabia propôr de modo fácil e atraente; o seu ferveroso empenho pela difusão da Doutrina Social da Igreja entre os pobres do mundo, o desejo de evangelização do seu continente, a Ásia, a capacidade que tinha de coordenar as actividades de caridade e de promoção humana que promovia e mantinha nos lugares mais recônditos da terra.
O Cardeal Van Thuân era um homem da esperança, vivia da esperança e difundia-a entre todos aqueles que encontrava. Foi graças a esta energia espiritual que resistiu a todas as dificuldades físicas e morais. A esperança sutentou-o como Bispo isolado, separado da sua comunidade diocesana durante 13 anos; a esperança ajudou-o a vislumbrar por entre o absurdo dos eventos que lhe aconteceram – nunca foi processado durante a sua longa detenção – um desenho providencial de Deus. A notícia da sua doença, um tumor que depois o conduziu à morte, surgiu quase simultaneamente com a sua nomeação para Cardeal pelo Papa João Paulo II, que nutria por ele uma grande estima e afeição. O Cardeal Van Thuân amava repetir que o cristão é o homem do agora, do momento presente, a acolher e a viver com o amor de Cristo. Esta capacidade de viver o agora presente faz transparecer a essência do seu abandono nas mãos de Deus e a simplicidade evangélica que todos admirámos nele. “Será possível – perguntava para consigo – que quem se confia ao Pai celeste, depois se recuse a deixar-se ser envolvido nos Seus braços?”
Caros irmãos e irmãs, acolhi com profunda alegria a notícia que se prende com o início da Causa de Beatificação deste singular profeta da esperança cristã e, enquanto confiamos ao Senhor a alma eleita, rezamos para que o seu exemplo seja para nós um válido ensinamento. Com tal desejo, de coração dou a minha benção a todos.
Papa Francisco
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
GAUDETE ET EXSULTATE
DO SANTO PADRE FRANCISCO
SOBRE O CHAMAMENTO Á SANTIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
17. Por vezes, a vida apresenta desafios maiores, a partir dos quais o Senhor nos convida a novas conversões, que permitem que a Sua graça se manifeste melhor na nossa existência «para nos fazer participantes da Sua santidade» (Heb 12,10). Outras vezes, trata-se somente de encontrar um modo mais perfeito de viver aquilo que já fazemos: «Há inspirações que tendem somente a uma perfeição extraordinária das práticas ordinárias da vida cristã».[15] Quando o Cardeal Francisco Xavier Nguyên Van Thuân estava na prisão, renunciou a consumir-se na espera pela sua libertação. A sua escolha foi «vivo o momento presente, enchendo-o de amor»; e o modo com o qual isto se concretizava era: «aproveito as ocasiões com as quais me deparo a cada dia para cumprir as acções ordinárias de um modo extraordinário».[16]